A mulher Warao em contexto migratório na cidade de Boa Vista-RR: O “trabalho” da mendicância
Palavras-chave:
Mulher, Mendicância, Cultura, WaraoResumo
O povo Warao foi o primeiro grupo que chegou ao Estado de Roraima em 2015. Esse povo ocupa tradicionalmente o estado Delta Amacuro, localizado ao leste da Venezuela, formado pela desembocadura do rio Orinoco, um dos maiores rios do mundo e é caracterizado por uma exuberante riqueza paisagista. Este trabalho apresenta resultados referentes à pesquisa de campo desenvolvida no Abrigo da Pintolandia (Boa Vista-RR), no ano de 2016 e que teve como objetivo identificar de que forma os indígenas imigrantes venezuelanos da etnia Warao conservam sua língua, cultura, costumes e rituais, em especial, analisando a mulher warao no seu trabalho não mais como coletora de frutos na comunidade mas, sim, como coletora de dinheiro na cidade. Como metodologia, foi utilizado o método de pesquisa-ação com enfoque de caráter exploratório qualitativo (indutivo), permitindo uma observação espontânea e coleta de dados, por meio de instrumentos como entrevistas; questionários previamente elaborados, abrindo espaços para a interpretação e facilitando a identificação dos aspectos culturais presentes nesse espaço de convivência. Os Warao têm se adaptado a seu novo estilo de vida e à convivência com os criollos (não índios). Há aumentado o número dos habitantes, mas não sua qualidade de vida. Seu estado de saúde, no geral, o mesmo que seu padrão de nutrição, parece ter-se deteriorado. Quanto ao seu acervo cultural, constata-se a grande quantidade de material mitológico Warao em forma de literatura oral. A comunidade warao procura manter sua língua e sua cultura por meio do ensino bilíngue, do trabalho com artesanato e das danças típicas na cidade de Boa Vista-RR. Alguns já migraram para Manaus, Santarém, Belém e Brasília, porém levando consigo o costume de coletar dinheiro nas cidades, o qual é considerado como um trabalho para a mulher warao. Elas não se consideram pedintes de esmola. Ao contrário, afirmam que estão coletando dinheiro como faziam outrora, coletando frutos na comunidade indígena do Delta Amacuro, constituindo uma sociedade matriarcal com inversão de papéis e empoderamento da mulher warao, sendo em muitas ocasiões, única provedora da família. No entanto, os resultados da pesquisa apontam que apesar da mulher warao manter suas crenças espirituais, tradições, custódia dos filhos e, especificamente, sua contribuição e aporte no trabalho como unidade produtiva e provedora da consecução de alimentos para a família, sua entrega e submissão ao homem em seu perseverante compromisso “feminino” da maternidade marcam seu processo de sujeição e serviço no lar.