A sociabilidade do ausente (drama e liberdade nas migrações)
DOI:
https://doi.org/10.48213/travessia.i82.368Resumo
A celebração dos trinta anos de publicação da revista Travessia nos oferece a oportunidade de uma reflexão crítica sobre o tema de que ela tem tratado num dos períodos mais conturbados dos deslocamentos humanos no Brasil, o das migrações. Não só a clássica migração do Nordeste agrícola, seco e pobre, para o sudeste industrial, urbano e rico. Mas, sobretudo, os grandes deslocamentos de populações pobres do Nordeste e de populações campesinas do Sul para a região Amazônica, no período da ditadura militar e de sua política de ocupação dos espaços supostamente vazios. Muitos, desencontrados e até opostos fatores e motivações entrelaçam-se na trama desse êxodo, o que complica as análises que, nesse período, tenderam à simplificação da linearidade, tudo reduzido a supostas causas e a supostos efeitos mecanicamente estabelecidos. Poucas referências a motivos e motivações e ao imaginário das migrações. Análises claramente orientadas para contornar a cumplicidade do migrante com a migração que protagoniza, que é um dos aspectos decisivos das migrações na sociedade contemporânea. Migração não é o mesmo que deportação. Ninguém migra, menos ainda em família, sem imaginar e calcular o que vai acontecer, sem visualizar a partida, a viagem, a chegada, as consequências do deslocamento, o que no geral é o definitivo do destino. A migração envolve um querer e é esse querer a chave característica de cada episódio de deslocamento.