Barrados na Ponte da Integração: imigrantes nas fronteiras da Amazônia Sul Ocidental durante a pandemia
Palavras-chave:
Imigrantes, Fronteiras, Amazônia Sul Ocidental, PandemiaResumo
Em uma ponta está a cidade de Assis Brasil, no estado do Acre, Brasil; na outra, Iñapari, no Departamento de Madre de Dios, no Peru; entre as duas está situada a cidade de Bolpebra, no Departamento de Pando, na Bolívia. Na Ponte da Integração, que conecta os países, em um dos principais eixos da Rodovia Interoceânica (Amazônia Sul Ocidental), imigrantes de diversas nacionalidades são barrados pelo fechamento das fronteiras, política reiterada pelos países vizinhos durante a pandemia de Covid-19. A situação ganhou especial visibilidade em meados de 2020 e no início de 2021, dois momentos em que o volume de pessoas e o período de tempo de sua retenção sobre a ponte ampliaram as dimensões humanitárias da crise sanitária. Adotando como ponto de partida essas duas circunstâncias empíricas da realidade amazônica, o artigo reflete sobre a produção da condição de ilegalidade migrante, discorrendo sobre os regimes de fronteira praticados na região, cujos desdobramentos potencializam a vulnerabilidade social e laboral dos imigrantes no decurso da pandemia. Trata-se de uma investigação social empírica, guiada pelo referencial crítico da sociologia, mediante combinação de pesquisas bibliográfica e documental, com aporte na etnografia. A despeito das normativas existentes de defesa dos direitos humanos dos imigrantes, circunstâncias como a pandemia reforçaram as adversidades para sua efetivação e implicaram em recrudescimento do controle policial nas fronteiras, que, em nome da prerrogativa de proteção sanitária, tornou-se mais restritivo, violento e excludente, notadamente em relação aos imigrantes indígenas e negros empobrecidos que circulam pelas fronteiras amazônicas.